Lições da vitória
Por: Prof.
Ms. José
Marinho M. Dias Neto
Nós, brasileiros,
vivemos um domingo de muita alegria com uma goleada impressionante
de nossa seleção de futebol sobre o Chile. Adriano, Robinho, Cacá,
Ronaldinho e cia ltda deram um verdadeiro show. O Brasil está na
Copa do Mundo mais uma vez. Não há um só canto deste país onde
falte euforia e otimismo quanto ao desempenho de nosso time no
Mundial da Alemanha. Quem milita no esporte sabe que a Copa do
Mundo ainda está longe e qualquer prognóstico corre o risco de se
tornar leviano. E estamos falando do futebol de uma seleção
pentacampeã. Apesar do basquete estar meio por baixo, foi visível
o interesse das pessoas pela Copa América. Nosso esporte, tão
carente de conquistas internacionais e tão desestruturado
internamente, também se classificou para o Mundial no ano que vem
no Japão. Com louvor, é verdade, depois da bonita conquista da
Copa América. Mas precisamos manter os pés no chão.
Não há como negar
que houve amadurecimento tanto dos jogadores quanto da comissão
técnica. O repertório tático propiciou muitas opções, o coletivo
foi mais valorizado e a as ações individuais melhor selecionadas.
O Nenê teria uma vida muito mais fácil desta vez caso aceitasse a
convocação. Como resultado, soubemos controlar a maioria das
partidas. Mesmo assim ainda tivemos recaídas nas partidas contra
Porto Rico e contra os EUA. Além disto, sob o aspecto psicológico,
nossa CT fez um bom trabalho, ficando claro o foco da equipe no
primeiro objetivo, a classificação para o Mundial, sem demonstrar
qualquer sinal acomodação no caminho para o título.
Alguns podem
questionar que nossa defesa ainda é errática e que nosso ataque se
excede nas bolas de três pontos. Pode até ser. Lula teve que se
exceder nas defesas por zona por total falta de opções. Condição
imposta por ele mesmo, diga-se de passagem. Quando defendeu
individualmente, observei uma evolução em nossa seleção. Nossos
atletas estão jogando mais duro, os conceitos estão bem
executados, as trocas estão mais bem concatenadas, a defesa mais
compacta e até o rebote melhorou durante a competição. O
equilíbrio defensivo precisa ser aprimorado.
Falando dos
jogadores, cabe destacar as atuações de nosso “quarteto
fantástico”. Marcelinho foi justamente escolhido o MVP da
competição. Sua defesa foi surpreendente. Seus percentuais no
ataque falam por si, quanto a sua precisão e sua seleção de
arremessos. O desempenho do Leandrinho foi muito semelhante,
embora um pouco irregular. Sua performance no segundo tempo da
final foi magnífica. Tiago custou a engrenar. Mas quando se
encontrou (na segunda fase), mostrou seu jogo versátil, atlético e
técnico. Tiago tem apenas 20 anos, sinal de teremos ainda muitas
alegrias com ele. Guilherme, por sua vez, foi o mais sacrificado,
tendo atuado como pivô por um tempo considerável. Seu jogo não é
brilhante. Mas ele domina todos os fundamentos, respeita as opções
táticas e atua com muita determinação. Com a contusão do Anderson,
Murilo entrou no fogo e não se queimou, apesar de sua pouca
familiaridade com o jogo mais físico. Alex mostrou para o mundo
que sua total recuperação está muito próxima. Nezinho foi muito
mal (um erro a cada cinco minutos). Caio, Rafael, Huertas e
Jefferson foram passear.
Infelizmente, nem
tudo foi “um mar de rosas”. Nós vencemos o Sul-americano e o
Pan-americano de 2003 em condições muito semelhantes e naufragamos
no Pré-olímpico, quando o nível técnico da competição cresceu.
Alguns erros teriam
sido fatais em outras circunstancias e não podem ser repetidos no
Mundial sob pena de mais uma grande decepção.
A insistência com o
Nezinho beirou a teimosia. Marcelo Huertas não tinha como mostrar
serviço por falta de minutos e confiança. Deixar no Brasil
armadores com mais experiência e categoria poderia ter custado
muito caro se nos adversários estivessem um Nash, um Arroio ou um
Montechia. Ainda bem que a turma era muito mais fraca.
Lula não se mostrou
muito lúcido em sua convocação original e foi extremamente
imprudente quando precisou trocar os pivôs. Como resultado,
ficamos quase imobilizados em termos de substituições e de
mudanças táticas. O abuso na utilização das defesas por zona não
foi uma escolha, foi uma necessidade. A desculpa de dar
experiência à garotada não cola mais. Porque não usar a
Universiade ou outra competição menos importante para isto. Nosso
basquete não resistiria ficar de fora do Mundial. Seria como
assinar um atestado de óbito. Felizmente, os seis carregadores do
piano deram conta do recado. Veja o gráfico:
|
“Os seis titulares” |
“O banco” |
Minutos |
1744 (85%) |
306 (15%) |
Pontos |
840 (92%) |
76 (8%) |
Rebotes |
337 (89%) |
42 (11%) |
Assistências |
146 (88%) |
20 (12%) |
A escolha do
Jefferson como quarto ala foi completamente descabida. Não
tínhamos opção se precisássemos manter o Marcelinho na posição 2.
Teríamos forçosamente que baixar a estatura da equipe com a
entrada do Alex. Uma “auto camisa de força” tática.
Por outro lado, a
substituição dos pivôs dispensados pelo Caio e pelo Rafael beirou
as raias da inconseqüência. Deixar no Brasil nomes como Sandro,
Janjão e Luis Fernando não tem justificativa. Nosso universo de
alternativas já é bem limitado para montar uma seleção e as poucas
plausíveis são negligenciadas. Não dá para entender. A utilização
insistente do Guilherme no pivô (por necessidade e não por opção
de “quatro abertos”) e o temor da CT em utilizar os garotos na
competição foi um verdadeiro “mea culpa”. E pelo amor de Deus: o
Nenê faz falta, muita falta.
No final, entre
mortos e feridos, salvaram-se todos, não sem antes termos sofrido
muito. Não tenho dúvidas que a CT irá reavaliar alguns pontos de
vista, aprimorar os pontos positivos e corrigir algumas falhas,
sob pena de amargarmos outro dissabor no Japão. O Lula sabe, é
claro, que no Mundial teremos desafios muito mais difíceis.
Precisaremos de um elenco completo, mais opções táticas, mais
regularidade, a mesma determinação E, PRINCIPALMENTE, DAR UM FIM
NA TEIMOSIA.
Críticas e sugestões:
bbheart@bbheart.com.br
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