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Entrevista com Ary Vidal
Por: José Marinho e Alcir Magalhães


Alcir Magalhães e Ary Vidal
 

Ary Ventura Vidal, 69 anos, técnico de basquete medalha de bronze no Mundial de 1978, quarto colocado no Mundial de 86, sexto na Olimpíada de Atlanta 96, campeão brasileiro pelo Pony Corinthians em 94 e, principalmente, campeão pan-americano em Indianápolis 87, ajudando a mudar os rumos do basquete mundial com a introdução dos profissionais da NBA nas competições internacionais. Num papo descontraído comigo e com o amigo Alcir, Ary demonstrou todo seu conhecimento de basquete e nos revelou passagens de uma época em que nosso basquete ainda era temido no mundo.

Como você conseguiu fazer uma geração de bons jogadores atuar em função de Oscar e Marcel?

Ary Vidal: Com a criação da linha de três pontos em 1985, eu logo concluí que poderíamos tirar vantagem desta nova regra através dos arremessos de Marcel e Oscar. Foi combinado com os jogadores que iríamos explorar nossa virtude nos arremessos longos. Houve um trabalho de convencimento do grupo. Os resultados internacionais ajudaram. A equipe era muito unida. Todos eram sabedores de suas funções e procuravam executá-las a termo. Quando a bola fosse passada para os nossos pivôs, eles estavam instruídos para devolverem para Marcel e Oscar. Em 1987, por exemplo, Robinson e Manning tinham um potencial de tocos muito grande. Desta forma, nossos pivôs voltariam sempre que possível a bola para nossos alas. Este procedimento era treinado insistentemente. Os EUA, na época, atuavam ainda muito concentrados no jogo interior, nos dando chance de surpreendê-los com os arremessos longos. Nós tínhamos também a arma dos contra-ataques pouco ortodoxos. Oscar e Marcel eram lentos. Nossos pivôs chegavam antes deles e puxavam a marcação para o garrafão. A bola era então passada para nossos alas que surpreendiam os adversários com os arremessos de três pontos, algo inconcebível para os contra-ataques da época.

Você teve algum problema sério com algum jogador da época?

Ary Vidal: Vários. Carioquinha, Hélio Rubens, Adilson, Zé Geraldo e o próprio Ubiratan. Eles estavam acostumados a jogar toda a partida e eu instituí uma política de rodízio, provocando um certo descontentamento. Eu, por exemplo, gostava de colocar o Carioquinha no banco. Ele se sentia muito frustrado, pois estava acostumado em atuar os 40 minutos. Quando ele entrava, tentando provar que eu estava errado e tentando não mais sair do jogo, arrebentava. Era excelente para o time.

Como foi aquela vitória no Brasileiro pelo Corinthians, quebrando a hegemonia dos times paulistas?

Ary Vidal: Foi um time muito dedicado e lutador. Nós treinávamos muito. Tínhamos uma atmosfera ideal em Santa Cruz do Sul. Excelentes condições de treino. Uma cidade tranqüila e apaixonada pelo basquete. Diferentemente das outras equipes da época, nós trouxemos dois alas (invés de dois pivôs), pois não existiam muitos jogadores de qualidade nesta posição no Brasil na época. O Brent era uma máquina de fazer pontos. Já o Alvin, além de ser uma excelente pessoa, era um jogador de grupo fantástico. Ele mudava a postura da equipe durante as partidas. O Almir incendiava vindo do banco. Nós não éramos os favoritos. Franca, Dharma, Rio Claro, Palmeiras (do ala Marcel), Jales e até mesmo Tijuca tinham equipes muito fortes. A equipe foi crescendo durante a competição. Chegamos ao ápice na hora certa e acabamos surpreendendo.

Você acha que se a seleção na geração Oscar jogasse de maneira mais conservadora poderia ter obtido melhores resultados?

Ary Vidal: De jeito nenhum. Aquele era o estilo de jogo mais adequado para aquela geração. Se jogássemos com menos risco, poderíamos até fazer um jogo duro, mas provavelmente perderíamos no final. Obtivemos vitórias históricas com aquela filosofia de jogo.

Você tem algum ídolo?

Ary Vidal: Michael Jordan é o deus do basquete. Como técnico meu ídolo foi Togo Renan Soares, o Kanela (bicampeão mundial pelo Brasil 59/63). Nos EUA admiro John Wooden (dez vezes campeão da NCAA pela UCLA, seis vezes técnico do ano da NCAA) e Dean Smith (técnico mais vitorioso da NCAA em todos os tempos, dois títulos nacionais por Carolina do Norte, 11 final four e campeão olímpico de 1876).

Qual foi o melhor jogador brasileiro que você viu jogar?

Ary Vidal: Eu faria um time. Ubiratan, Wlamir, Amauri, Marcel e Oscar.

Qual foi sua maior conquista, o Pan de 87 ou o bronze no Mundial 78?

Ary Vidal: A ultima conquista a nível mundial do masculino foi o terceiro lugar no Mundial das Filipinas. Mas o Pan de 87 teve um gosto todo especial. Nós vencemos os EUA em Indianápolis, com dez jogadores com contrato assinado com a NBA (David Robinson, Danny Manning, Rex Chapman, entre eles), de modo surpreendente, principalmente pelo desenrolar da partida. Foi espetacular. Me deixa emocionado até hoje. Nós nos preparamos muito. Estávamos acreditando. Traçamos uma estratégia. Contávamos com imaturidade e o nervosismo do grupo americano, caso conseguíssemos endurecer o jogo. O Chapman estava “branco” em quadra. Um detalhe importante. Fomos para o intervalo perdendo o jogo por mais de dez pontos com o Oscar tendo anotado apenas sete pontos e o Marcel seis. Mesmo assim, já tínhamos feito 49 pontos. Quando a bola de nossos alas começasse a cair, o jogo seria outro. E foi o que aconteceu. Acabamos vencendo. Após a partida, Eu e o Medalha (José Medalha, assistente técnico) demoramos quase duas horas para nos conscientizarmos da conquista. Estávamos atônitos. Quando chegamos no restaurante, após as entrevistas e a entrega das medalhas, é que tivemos noção do feito histórico (os EUA nunca haviam sido batidos em casa) que tínhamos alcançado. Os jogadores estavam liberados, mas os encontramos todos juntos na comemoração neste mesmo restaurante. Aí sim, extravasamos toda nossa emoção.

Confiante para o Japão 2006 e para Pequim 2008?

Ary Vidal: Acho que a seleção está mais madura, embora seja muito difícil conquistar uma medalha. O basquete brasileiro será bem representado com esta geração. Temos poucos, mas bons jogadores para as três posições de jogo. O técnico Lula terá um bom “problema” para escalar o time certo. Estou confiante.

Críticas e sugestões: bbheart@bbheart.com.br