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Uma aula de basquetebol
Por: Prof. José Marinho M. Dias Neto

Quem gosta realmente de basquetebol e tem a pretensão de entender as nuances deste esporte complexo, não deve perder oportunidades. Qualquer jogo é importante. Do pré-mini ao veterano. Nem que seja para aprender como não fazer. Alguns comparam a complexidade do basquete ao xadrez. O xadrez tem 16 pecas é verdade, contra apenas cinco do basquete. Assim como no basquete, no xadrez cada peça tem sua função. O relógio é parte fundamental dos dois jogos. A inteligência e a precisão também. A diferença está na dinâmica. Enquanto o xadrez se resume num simples movimento de peças sem vida, no basquete o cognitivo é traduzido em ações motora finas salpicado de capacidade física e emoção. Existem muito mais possibilidades e variáveis intervenientes. Portanto, entender o basquete depende de muita prática e atenção. E eu não tenho a menor pretensão de ser um virtuose. Mas não deixo exercitar minha paixão. A NBA é um prato cheio.

Nosso esporte querido tem passado nos últimos tempos por uma grande transformação. O bom arremessador é bem menos valorizado que o jogador capaz de enterrar com grande vigor. As demonstrações de habilidade nas fintas desconcertantes das ações 1 x 1, decorrentes também de grande explosão muscular, valem mais que uma boa jogada bem trabalhada através de passes. É o sinal dos tempos. É quase impossível sobreviver no basquete atual sem uma excelente condição atlética.

Não estou querendo defender o Romário. Não existe mais espaço em nenhum esporte para o jogador não atleta, embora alguns componentes da imprensa ainda venerem este comportamento. Mas precisamos observar o basquete com outros olhos. Precisamos valorizar menos a força bruta e admirar mais o talento individual e coletivo. O talento pode ser entendido pela capacidade de simplificar o jogo. É o poder de traduzir em movimento e em técnica o processo de tomada de decisão. É a inteligência motora.

A final da Conferência do Oeste está sendo um excelente exercício de análise deste ponto de vista. Não há como não admirar o basquete do Steve Nash. Se procurarmos, não vamos encontrar uma condição atlética espetacular. Ele não precisa sair um metro do chão para jogar. Nem mesmo precisa ter mais de dois metros de altura ou um corpo rico em massa muscular. Mas que ele tem talento de sobra, isto ele tem. Seu talento é traduzido em passes incríveis, visão de jogo primorosa, muita habilidade no drible, arremessos certeiros e, principalmente, muito conhecimento do jogo. A parte tática do Phoenix parece se resumir em “dê a bola para o Nash que ele resolve”. Nash poucas vezes finaliza sem o desequilíbrio para trás, procurando sempre evitar os tocos. Utiliza o passe longo em detrimento dos dribles nos contra-ataques. Dribla para frente sempre que supera um adversário, evitando o roubo de bola por trás. Aliás, sua habilidade no drible beira a perfeição, sugerindo-nos que a bola é uma extensão de seu próprio corpo. Ele usa o passe picado no “jogo 2 a 2” com maestria. Quando infiltra, não procura somente os jogadores dentro do garrafão. Ele faz algo bem moderno: drible agressivo e assistência para fora. Observa sempre o lado fraco da defesa, onde existe mais espaço para seus passes. Poucas vezes salta para passar. Que empunhadura! Passa com uma só mão (mesmo sendo a mão esquerda), ganhando um tempo precioso na dinâmica do jogo. Passes de efeito, só quando necessário. O importante é a eficiência. Quem está com a “mão quente” tem prioridade. Ufa...

Me perdoem, pois meu poder de observação é limitado. Muitas outras virtudes poderiam ser enumeradas, mas não tenho capacidade de captá-las. Me ajudem, por favor..

Vendo Nash jogar, o basquete parece simples. Quem está com a bola só tem mesmo três opções. Ou dribla, ou passa, ou arremessa. O problema é escolher qual melhor caminho a seguir. Numa mesma situação, nem sempre a decisão a tomar se repete. Depende do momento do jogo. Da confiança. E do emocional também. Só os craques escolhem o fundamento certo no momento oportuno. Poucas vezes vemos o armador canadense se equivocar. Algumas vezes (talvez por excesso de confiança) ele infiltra demais, perdendo ângulo para o passe. Não sejamos preciosistas. Isto é um grão de areia num deserto de virtudes.

Nas décadas de sessenta e setenta, o armador mantinha a posse de bola por muito tempo, procurando achar a melhor possibilidade em cada ataque. Era a época do armador clássico. O jogo se tornava mais cadenciado e até um tanto chato. Depois veio a era do armador moderno. Dotado de grande agilidade, ele é um especialista em contra-ataques, jogadas rápidas e bolas de três. Com ele, as contagens passaram a ser centenárias e o basquete ganhou muita movimentação. Mas não espere deste tipo de armador uma leitura acurada do jogo ou algo muito cerebral.

Nash está nos apontando um novo caminho. O caminho do talento. A habilidade e a inteligência de mãos dadas. Mãos mágicas!

Só espero que o Leandrinho esteja aprendendo... Se não encontramos nosso Steve Nash tupiniquim, vamos ficar de fora de muitas olimpíadas. Ainda mais... Deixa para lá...

Críticas e sugestões: bbheart@bbheart.com.br