REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO E A
INICIAÇÃO NO
BASQUETEBOL
Por:
Prof. Reginaldo
P. Bielinski
O controle do próprio corpo, com o
domínio dos movimentos, é a primeira manifestação inteligente do
ser humano.
Se uma criança exercitasse sozinha
seu próprio físico, sem uma orientação, por menor que fosse, ela
iria desenvolver vários movimentos em função de suas necessidades;
mas este seria um processo penoso, e de baixa eficiência.
Por isso é que ela é auxiliada;
estimulada em seus primeiros esforços, levada a pegar objetos, a
se deslocar com suas próprias forças, a descobrir progressivamente
suas capacidades físicas, aprendendo a utilizá-las em benefício de
suas necessidades, principalmente a da sua própria segurança.
Com o desenvolvimento biológico da
criança, ela vai conquistando um maior domínio sobre o seu corpo,
o que permite que se possa atuar no sentido de aperfeiçoar suas
habilidades físicas.
É
com essa finalidade que surge a Educação Física como instrumento
para a educação integral do indivíduo. Ela contribui para o
aprimoramento e o aproveitamento integrado de todas as
potencialidades físicas, morais e psíquicas do ser humano.
A Educação
Física favorece
* O
desenvolvimento biológico * A aquisição de
habilidades
* O
fortalecimento da vontade * A implantação de
hábitos sadios
* O estímulo à
liderança * O emprego útil do tempo de
lazer
Contribuindo com a Educação Integral no aspecto
Físico
Moral
* A
conservação da saúde * A disciplina e a obediência
* O
crescimento harmonioso e sadio * A tenacidade
Social
Psicológico
* O
desenvolvimento da sociabilidade * A aquisição
de novas habilidades
* O espírito de
equipe, noção de coletividade * O controle das emoções
* O
estímulo às tendências de liderança * A facilitação da
aprendizagem
Intelectual
*
A aquisição de
conhecimentos específicos
*
A familiarização com
a idéia de técnicas
*
O estímulo às
atividades de pesquisa
E O QUE É A
EDUCAÇÃO PERMANENTE ?
A educação não é uma despesa, mas
um investimento: os recursos aplicados na educação resultam na
melhor qualificação do indivíduo, para assegurar a sua própria
subsistência e, como resultado final, permitem o desenvolvimento
econômico da própria sociedade, e levam a melhores condições de
vida, no rumo do bem estar social.
Mas a educação não é um processo
que se limita ao tempo escolar: educação é atividade permanente,
que se realiza constantemente, ao longo de toda a vida do
indivíduo, devendo, pois, estar sempre à sua disposição.
Cabe à sociedade assegurar as
oportunidades de educação, a qualquer momento, e compete ao
indivíduo selecionar as prioridades para o atendimento de suas
necessidades. Será a própria pessoa quem vai controlar o seu
processo de aprendizagem, pois, a ela é que cabe decidir quando se
deve dedicar ao desenvolvimento de certa habilidade ou à aquisição
de novos conhecimentos.
O mundo é dinâmico, por
excelência, e a cada dia se transforma, em função de novas
conquistas científicas e tecnológicas – o ser humano precisa (e
sabe disso) estar em constante atualização de conhecimentos, para
poder acompanhar a modernização da própria vida diária.
Ninguém gosta de
ser visto como desatualizado ou ignorante e é por isso que o
indivíduo busca atualizar seus conhecimentos; e adquirir novas
informações, por intermédio do lazer, é uma forma suave e alegre
de não ficar para trás.
$
EDUCAÇÃO
$$$ |
Menor qualificação
Menor
produtividade
Baixa
qualidade de vida |
Maior qualificação
Maior
produtividade
Elevada
qualidade de vida |
A EDUCAÇÃO FÍSICA SE
REFLETE, DIRETAMENTE, EM MELHORES CONDIÇÕES DE SAÚDE
SAÚDE aumenta a
DISPOSIÇÃO que facilita a APRENDIZAGEM resultando na
QUALIFICAÇÃO
Existe uma relação
muito estreita entre as possibilidades de desempenho neuromuscular
da criança e a sua capacidade de aprendizagem escolar.
O desenvolvimento
neuromuscular se aperfeiçoa por meio das experiências em
atividades físicas, oportunidade que é exclusiva para cada
indivíduo – cada um vive uma experiência que é única, pessoal,
intransferível, quando na prática da atividade física.
Isto cresce de
significado quando se considera o atual quadro urbano, que impõe
a reclusão da criança ao ambiente da sua própria residência, sem o
maravilhoso enriquecimento da “descoberta do mundo, lá fora”.
Assim a Educação
Física, nos primeiros anos escolares, não se pode restringir à
promoção de brincadeiras para as crianças, (embora brincar seja
importante e tenha o seu lugar e momento), apenas para dar um
tempo de descanso aos demais professores.
Nessa fase inicial,
o principal objetivo da Educação Física é estimular e facilitar o
domínio completo do corpo, por parte das crianças.
O aprimoramento
dessa habilidade deve ser o ponto de partida para qualquer outra
forma de aprendizagem motora posterior e – como todos os estudos
científicos confirmam – é um pré-requisito inerente ao
desenvolvimento intelectual normal.
Em função da faixa
etária atendida, a Escolinha de Basquetebol é uma atividade
complementar, reforçadora do processo educacional da mais alta
eficácia.
No campo da Educação
Física, ela propicia um dos momentos de máxima obtenção da atenção
e da participação do aluno, pois, ele estará ali, por sua própria
vontade, para fazer uma atividade lúdica; o que é, por si só, o
maior fator de motivação individual.
Contando com essa
vantagem sobre as demais atividades do elenco educacional da
escola formal, ela não se pode limitar, apenas, à prática do
basquetebol, enquanto lazer.
A relação professor
/ aluno – ponto crítico do processo de aprendizagem --, adquire,
na Escolinha, um ar de cumplicidade, de companheirismo.
ESCOLINHA DE
BASQUETEBOL, BRINCAR E EDUCAR
A Escolinha de
Basquetebol é uma oportunidade para o lazer das crianças – mas já
vimos que não é só isso que se pode obter.
De um modo geral, o
lazer é visualizado como uma atividade informal, campo
essencialmente livre para a criatividade e aberto à qualquer
pessoa. Assim essa Escolinha — que é um instrumento formal,
instituído — terá que buscar a máxima descontração, sendo tão
informal quanto possível. Começa-se, desse modo, a perceber a sua
complexidade: valorizar o não-formal a partir de uma estrutura
formal.
Como solução para
recuperar valores humanos, que foram relegados a um plano
secundário pela urbanização desordenada, a Escolinha propicia,
também, a oportunidade de uma experiência inigualável, além do
lazer puro e simples. E porquê ?
A identificação da
criança com o professor de Educação Física é uma constatação
efetiva: ali está um companheiro de brincadeiras, uma pessoa “mais
velha”, que entretanto, “sabe brincar”. Tal
identificação possibilita o levantamento de barreiras e a anulação
de bloqueios, por parte da criança, diante do representante da
autoridade e, nesse nível de igualdade, o que vier a ser dito pelo
professor será muito mais aceito pelo aluno. Cresce, pois, a
responsabilidade desse profissional: além de ser o orientador de
uma atividade de lazer, não poderá furtar-se ao papel de agente de
apoio ao processo educacional, cabendo-lhe o cuidado de não
ultrapassar os limites da sua função de apoio: um reforçador dos
valores úteis para a vida dos seus alunos, na condição de “colega
mais velho”.
Fica muito nítido,
então, que o orientador de uma Escolinha de Basquetebol não pode
ser apenas um expert em basquetebol ou em desenvolvimento de
habilidades motoras — será imprescindível que ele se posicione
como um educador.
E O QUE É SER UM
EDUCADOR ?
A Educação é um
processo que ocorre através de “redes e estruturas sociais”.
Por meio dele repassa-se o conhecimento dominado pelo ser humano,
de uma geração para outra.
Nos registros do
Professor Claudino Pilleti, “educação não se confunde com
escolarização, pois a escola não é o único lugar onde a educação
acontece. A educação também se dá onde não há escolas”.
Portanto, pode-se
dizer que o educador é todo aquele capaz de participar, de modo
efetivo, do processo educacional.
Cabe aqui uma
consideração muito delicada: o crescimento acelerado das cidades,
além de levar à urbanização desordenada e às suas conseqüências,
também implicou no desbalanceamento da estrutura familiar, em
razão da necessidade de que a maioria dos pais se dirigisse para o
mercado de trabalho, reduzindo o convívio com os filhos.
Ora, o ambiente
familiar “é o primeiro elemento social que influi na educação”,
e quando segmentado (ou desagregado) pela ausência dos pais, ele
resulta no surgimento de uma “série de outros problemas: falta
de amor, de carinho, de trato adequado, frustração...”
São carências que
precisarão ser supridas pela escola – mas a escola não pode
assumir, sozinha, tal mister...
Isto vem colocar o
professor de Educação Física numa posição de grande evidência, não
tanto pela sua figura e pelo seu papel em si, mas pela sua
responsabilidade social, uma vez que, mais que um professor, ele é
o companheiro preferencial para as brincadeiras, e o natural
parceiro para o diálogo curioso das crianças sob seus cuidados.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Sabemos que em nosso
país a Educação não é, ainda, uma prioridade real. Uma série de
fatores, que não cabe aqui abordar, nos leva a esta dura
realidade. Contudo, pelo tempo de luta no esporte, aprendi que
existe um campo fértil, necessitado de pessoas especiais que
tenham garra para semeá-lo e colher os frutos produzidos pela
educação esportiva! O melhor exemplo que posso citar no momento,
seria lembrar a origem do basquetebol: devido ao rigor do
inverno, que impedia a prática de exercícios ao ar livre, James
Naismith, utilizando as cestas que eram utilizadas na colheita no
campo, criou o basquetebol, praticado, hoje, por milhões de
pessoas em todo o mundo!
Gostaria de encerrar
com os versos de uma poesia de Albert Camus, que exprimem o
momento que vivemos, em especial o nosso basquetebol.
“Já se disse que
as grandes idéias
vêm ao mundo
mansamente, como pombas.
Talvez então, se
ouvirmos com atenção,
escutaremos em
meio ao estrépito de impérios e nações,
um discreto bater
de asas, o suave acordar
da vida e da
esperança.
Alguns dirão que
tal esperança jaz numa nação;
outros, num
homem.
Eu creio, ao
contrário, que ela é despertada,
revivificada,
alimentada por milhões de
indivíduos
solitários, cujos atos e trabalho
diariamente negam
as fronteiras e
as implicações
mais cruas da história.
Como resultado,
brilha por um breve momento
a verdade, sempre
ameaçada,
de que cada e
todo homem,
sobre base de
seus próprios sofrimentos e
alegrias
Constrói para
todos.”
Críticas e sugestões:
bbheart@bbheart.com.br
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