O Exílio Brasileiro
Vivemos uma nova era no esporte, onde
os times de menor expressão suplantam os grandes, onde jogadores
(no tênis e no basquete, por enquanto) não aceitam convocações por
discordarem da política reinante e onde a justiça começa a
interferir diretamente no andamento dos certames. No meio desta
revolução está o basquete brasileiro e sua séria crise. Crise de
comando. Crise de credibilidade. Crise de idéias. Crise financeira
e de popularidade. Como conseqüência, cada dia menos dinheiro
circula no meio. Os patrocinadores não vêem retorno em investir no
nosso esporte. Nem mesmo o recuo no preço do Dólar modificou algo
neste sombrio panorama.
A quantidade e a qualidade dos jogadores estrangeiros é um
indicador inegável do nível técnico de uma competição. Até a NBA,
nos últimos tempos, tem recrutado cada vez mais atletas
internacionais para valorizar seu campeonato. A BBHEART comparou a
participação dos estrangeiros no Brasileiro de 1996 com o atual
até o momento, procurando descobrir o impacto dos jogadores
importados na representatividade da competição. Em 1996, cada um
dos doze times tinha dois estrangeiros. Alguns deles fizeram
história em nosso basquete, como foram os casos de Marc Brown,
Alvin, Brent, James Carter, Leon, Askia Jones, Billy Law, Rocky
Smith e Jeffty. Em 2005, apenas 14 jogadores de outros países
estão ou estiveram em ação no Brasileiro até o momento. Somente os
dois de Brasília (Vargas e Kenya) são conhecidos do grande
público. Muitos deles nem titulares são. Metade das equipes, COC,
Mogi, Franca, Macaé, Londrina, Paulistano, Uniara e Pinhais, não
contam com nenhum estrangeiro. Alguns defendem que os estrangeiros
tiram espaço dos jogadores nacionais e dificultam o processo de
renovação. Pode até ser, mas nenhuma liga de bom nível no mundo
despreza os estrangeiros. É uma questão de relevância e status
para o campeonato. Vamos aos números:
BRASILEIRO DE
1996
|
JOG |
MIN |
PTS |
REB |
ASS |
A. Jones |
29 |
896 |
616 |
110 |
49 |
B. Law |
25 |
763 |
373 |
73 |
40 |
Aikens |
21 |
679 |
383 |
90 |
50 |
M. Taylor |
17 |
295 |
138 |
56 |
5 |
Corn |
24 |
698 |
379 |
139 |
17 |
Jeffty |
22 |
649 |
421 |
86 |
48 |
Carl |
22 |
401 |
216 |
101 |
11 |
James |
22 |
662 |
374 |
161 |
7 |
R. Smith |
13 |
258 |
113 |
3 |
5 |
Troy |
22 |
688 |
403 |
158 |
4 |
Brent |
24 |
754 |
523 |
79 |
14 |
Erik |
25 |
475 |
161 |
113 |
0 |
Campbell |
18 |
577 |
208 |
175 |
13 |
Dion |
18 |
445 |
205 |
54 |
13 |
Keith |
22 |
300 |
137 |
66 |
4 |
Parish |
29 |
794 |
463 |
151 |
15 |
Leon |
24 |
562 |
152 |
144 |
5 |
Ray |
24 |
452 |
236 |
41 |
22 |
Alvin |
34 |
1153 |
806 |
126 |
51 |
M. Brown |
27 |
888 |
475 |
54 |
65 |
Carter |
31 |
1099 |
628 |
74 |
87 |
McIver |
29 |
635 |
248 |
180 |
6 |
Marvin |
10 |
175 |
58 |
32 |
3 |
Travis |
10 |
204 |
64 |
18 |
1 |
TOTAL |
542 |
14502 |
7780 |
2283 |
535 |
Brasileiro 1996 |
624 |
62400 |
30342 |
8580 |
2184 |
% |
86,9 |
23,2 |
25,6 |
26,6 |
24,5 |
Apenas 13% dos jogos não contaram com a presença de
estrangeiros. Entorno de 25% das ocorrências de pontos,
assistências e rebotes no campeonato foram resultado da ação dos
jogadores importados. Nove dos 20 principais cestinhas e
reboteiros eram estrangeiros e sete entre os 20 em assistências
não eram brasileiros.
BRASILEIRO DE
2005
|
JOG |
MIN |
PTS |
REB |
ASS |
Aziz |
13 |
402 |
162 |
88 |
29 |
Taylor |
13 |
305 |
190 |
21 |
31 |
Vargas |
14 |
419 |
155 |
111 |
13 |
Kenya |
12 |
422 |
240 |
50 |
23 |
Green |
4 |
52 |
12 |
15 |
3 |
Tyrone |
3 |
22 |
6 |
2 |
1 |
Alexander |
12 |
244 |
116 |
60 |
13 |
Myron |
1 |
25 |
16 |
4 |
1 |
Tony |
1 |
20 |
4 |
2 |
2 |
Dusan |
11 |
164 |
48 |
13 |
7 |
Underwood |
4 |
82 |
32 |
8 |
1 |
Strand |
12 |
284 |
136 |
43 |
30 |
Lawson |
1 |
20 |
2 |
6 |
1 |
James |
1 |
21 |
7 |
1 |
0 |
TOTAL |
102 |
2482 |
1126 |
424,9 |
154 |
Brasileiro 2005 |
420 |
42000 |
17703 |
6720 |
3486 |
% |
24,3 |
5,9 |
6,4 |
6,3 |
4,4 |
Alguns dos estrangeiros (Myron, Lawson e James) acabaram de
ser regularizados, demonstrando a falta de estrutura e
planejamento dos clubes. Mas será que a competição merece algo
mais organizado? Tony e Underwood já foram dispensados. Os
“importados” aparecem em menos de 25% dos jogos, desempenhando
apenas quatro a seis pontos percentuais das ocorrências das
principais variáveis de desempenho técnico. Não existem
estrangeiros na lista dos melhores passadores, dois estão
presentes nos reboteiros e apenas um nos cestinhas da competição.
A queda vertiginosa da contribuição dos estrangeiros em
qualidade e em quantidade é mais um fator indicativo do declínio
técnico do Campeonato Brasileiro. Boa parte dos jogadores
importados atuais são ou muito jovens, ou têm outros interesses no
Brasil ou apresentam condição técnica bastante duvidosa. Jogar no
Brasil, na atualidade, é estar a margem da realidade do basquete
mundial. É como estar no exílio. As equipes são as principais
prejudicadas pela falta de capital circulante no nosso basquete.
Muitas delas optam por uma renovação forçada e de nível técnico
inferior como forma de cortar custos. Nenhum estrangeiro de nível
superior (e no ápice de sua carreira) se sujeitaria a fazer longas
viagens de ônibus. Precisamos aumentar a visibilidade da
competição. Não é possível um Brasileiro sem TV aberta, sem a
transformação dos jogos em um evento cultural e sem uma estratégia
de marketing voltada para o aparecimento de novos ídolos. Os
números acima demonstram que a crise atual é ainda pior que nós
pensávamos. É hora de mudar...
Críticas e sugestões:
bbheart@bbheart.com.br
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