União e trabalho: Recomeçar JÁ no basquetebol
Rio de Janeiro,
03 de janeiro de 2005
Prezado Prof. José
Marinho
Não o conheço pessoalmente, mas
sei do seu trabalho em prol da educação física e do basquetebol, e
o site que mantém é mais um dado que enriquece o seu brilhante
currículo.
Eu pretendia lhe enviar um artigo
de conteúdo técnico, para a apreciação e publicação, se fosse o
caso. Achei contudo, que seria mais importante iniciar com o
depoimento de um velho batalhador do esporte, com vitórias e
derrotas, mas com muitos amigos e a chama eterna do valor do
esporte em meu coração. A marca do verdadeiro esportista é a
espontaneidade e a dedicação ao esporte, que nem o
profissionalismo consegue mudar. Achei que os mais antigos
precisam dizer aos mais jovens que o esporte exige pessoas de
fibra, que lutem por ele, ontem, hoje e sempre!
Também sou professor de educação
física, certamente bem mais antigo, mas apesar disso tão
entusiasmado e estudioso quanto o amigo. Sou da época em que o
basquetebol brasileiro atingiu o ápice, década de 50 e 60, e que
fazia o brasileiro alegre e orgulhoso de sua Seleção e de seus
atletas. Ainda aluno ia assistir os treinamentos e ficava
assombrado com a habilidade demonstrada pelos atletas que
estudavam e trabalhavam; eram amadores como exigia o regulamento
olímpico.
Quando me formei, além das aulas
fui ser técnico de voleibol. E ao contrário do que acontece hoje,
o voleibol brasileiro não tinha a projeção mundial apesar do
brasileiro demonstrar habilidade para esta modalidade. Após alguns
anos como técnico, aceitei ser presidente da Federação Mineira de
Voleibol e pude entender melhor porque o voleibol não atingia
projeção mundial . Aproveitando o grande apoio que o governo
passou a dar aos esportes, construindo dependências esportivas,
concedendo verbas, iniciamos um trabalho no voleibol mineiro,
trazendo equipes japonesas para jogos (eram mais exibições tal a
superioridade técnica), promovendo cursos para técnicos e
árbitros, organizando competições diversas, inclusive estudantis,
doando material esportivo para os clubes, incluindo as primeiras
bolas japonesas importadas. A própria Confederação Brasileira de
Voleibol foi presenteada com algumas bolas pela Federação Mineira.
Acontece que o então presidente da CBV que exercia o cargo há 12
anos, era apenas um burocrata, a pior praga para o esporte, que
exige dirigentes com dinamismo em alto grau. Era o ano de 1968,
quando se iniciou um árduo trabalho em nível nacional para
substituir aquele burocrata, um sujeito bem intencionado mas sem
condições para ser um dirigente esportivo de alto nível. Anos mais
tarde, eu já não estava em Minas Gerais, o Carlos Nusman, após ser
presidente da Federação de Voleibol do Rio de Janeiro, conseguiu
se eleger presidente da CBV, onde fez um brilhante trabalho por
muitos anos, resultando que hoje temos o melhor voleibol do mundo,
pois o dirigente que o sucedeu manteve aquele trabalho.
E o basquetebol? Infelizmente fez
o caminho inverso....
Você pode estar intrigado porque
estou contando esta história. Explico. Quis o destino que depois
de tantos anos, já aposentado, tivesse um neto com 13 anos que
adora o basquetebol e o pratica muito bem. Há 4 anos que o
acompanho, desde a escolinha até as competições de pré-mirim e
mirim, aqui no Rio de Janeiro. Inevitavelmente me vejo comparando
a época de hoje com a que vivi no passado. Muita coisa mudou,
como: 1) o esporte se profissionalizou (mas não paga nem aos
atletas, nem aos técnicos, e nem aos árbitros, salvo as exceções),
o que trás como conseqüência: abnegados que fazem de tudo pelo
basquetebol, ou curiosos, oportunistas, que contaminam o esporte.
2) os clubes tradicionais estão falidos, e aos poucos vão
extinguindo seus departamentos esportivos. Surgem agremiações que
dependem de patrocínio e até de contribuição dos atletas;
geralmente têm vida curta, pois o basquetebol masculino não tem
ido às Olimpíadas, logo o retorno de mídia não existe, não
interessando às empresas. 3) a ajuda dos governos estaduais e
municipais não existe, salvo exceções.; o governo federal ficou
muitos anos sem apoiar, agora começa a ajudar, mas é pouco. 4)
infelizmente não temos em nosso país a cultura de ver o esporte
como um fator de educação, logo não existe a massificação
(considerando-se a nossa dimensão territorial e populacional)
porque sem o apoio dos governos, das empresas, das universidades,
das escolas, dos clubes, os jovens não têm onde praticar e muito
menos desenvolver suas potencialidades esportivas. É verdade que
tem havido algumas tentativas de criar espaços paras os mais
carentes, dentro de uma política social e não educacional como
seria correto. Cabe perguntar, e os não carentes? Não gostam de
praticar esportes? Não têm o direito de aprender para integrar as
equipes representativas dos diferentes níveis? E a formação de
futuros professores, técnicos e dirigentes, como fica? A
discriminação, seja ela qualquer, é sempre um problema a mais,
nunca uma solução. Apesar de realista, considero-me um otimista.
Há muitas coisas boas acontecendo, como por exemplo as
transmissões pela TV de jogos internacionais e nacionais (poucos),
mostrando que o basquetebol é o esporte ideal para este tipo de
mídia pelo seu forte conteúdo competitivo e tempo de duração; e as
maravilhas proporcionadas pela Internet trazendo informações
fabulosas aos aficcionados, inclusive à garotada que usa e abusa
desse meio de comunicação. Os jogos de veteranos me emocionam ao
ver aqueles “jovens” demonstrando suas habilidades, suas
alegrias, as confraternizações, as amizades, tão veteranas quanto
eles. Creio que a explicação é simples: o basquetebol é um esporte
para toda a vida!
Existe como recolocar o
basquetebol brasileiro no seu verdadeiro lugar, no ranking
mundial? Lógico que sim! É fácil? Não. Parece-me que o primeiro
passo é recomeçar JÁ, com os atuais adultos, visando a
classificação para as Olimpíadas; e começar JÁ, com os atuais
garotos das categorias de base, possibilitando a médio prazo a
renovação tão necessária no esporte. UNIÃO E TRABALHO em torno
dessas duas propostas seria o lema de todos: dirigentes,
professores, técnicos, árbitros, atletas, jornalistas, pais,
veteranos, amigos do basquetebol, buscando as condições e os
recursos com os governantes e empresários. Não há nada tão antigo
e tão verdadeiro quanto a frase: A UNIÃO FAZ A FÔRÇA !
Receba um abraço, com votos de
sucesso em 2005!
Cordialmente,
Prof. Reginaldo Bielinski
Críticas e sugestões:
bbheart@bbheart.com.br
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