Confidencial: Os segredos para ser campeão brasileiro
Por Prof. Ms. José
Marinho Marques Dias Neto
A
BBHEART recorreu às estatísticas dos últimos nove campeonatos
brasileiros para tentar descobrir o que torna uma equipe forte
suficiente para vencer o título nacional. Quais as virtudes
estatísticas que determinam as vitórias? Que variáveis não são tão
importantes? Os campeões são realmente bem melhores que a média
das equipes? Estas e muitas outras perguntas a BBHEART tentará
responder nas próximas linhas.
De posse dos números estatísticos dos campeões (EC) e das médias
de desempenho técnico das equipes (ME) em cada ano do campeonato
nas diversas vaiáveis de desempenho técnico, obteve-se um índice
efetividade dos campeões (IE), dividindo EC por ME (no caso dos
erros, violações, passes errados e faltas, fez-se o oposto – ME
por EC). Calculou-se a média do índice IE nos nove anos de
disputa, observando-se também seus valores máximos e mínimos.
Vamos aos resultados:
Em apenas um ano (1999 com IE de 0,999), o campeão não esteve
acima da média em termos de pontos por jogo. Para levar o título,
é importante estar no mínimo 2,8% acima da média do campeonato em
termos de pontos. O outro fator de extrema importância é o
predomínio da qualidade sobre a quantidade nos três tipos de
arremesso. Tanto nos arremessos de três pontos, quanto no de dois
e nos lances livres, o campeão tentou sempre menos arremessos que
a média do campeonato. Por outro lado, quem levou a taça esteve
sempre acima da média nos percentuais dos três tipos de arremesso.
O IE do percentual de arremesso (1,102) foi o maior encontrado,
dando mostras da importância da precisão neste tipo de finalização
para a vitória. Somente em um ano o campeão apresentou IE inferior
a 1 (um) no percentual de três pontos, também somente em um ano no
de dois pontos e em dois anos no de lance livre, levando-se em
conta os nove anos de disputa. Tudo isto prova a relevância da
seleção dos arremessos e do treino técnico específico de
finalização em nosso basquete.
|
PTS |
3PTS |
% |
2PTS |
% |
LLI |
% |
Índice IE |
1,028 |
0,923 |
1,102 |
0,997 |
1,043 |
0,992 |
1,018 |
V.Max |
1,069 |
1,031 |
1,211 |
1,064 |
1,077 |
1,148 |
1,072 |
V.Min |
0,999 |
0,771 |
0,977 |
0,904 |
0,995 |
0,873 |
0,980 |
A
presença no rebote defensivo parece ser muito importante para
chegar ao título, enquanto obter rebotes ofensivos não se mostra
muito expressivo. O rebote de defesa significa evitar uma segunda
chance do adversário e obter uma nova posse de bola. Já o rebote
ofensivo advém de um erro de arremesso. E ter precisão nos
arremessos é um importante (senão o mais importante) requisito
para vencer. Estar na média no total de rebotes parece ser o
suficiente para chegar lá.
Os bloqueios de arremesso (tocos) apresentaram um índice de grande
variabilidade, muito provavelmente em função da característica das
equipes. Dispor de jogadores altos e atléticos é uma condição
fundamental para conseguir bons números em tocos. De qualquer
modo, intimidar os adversários parece ter alguma importância, pois
seis dos campeões apresentaram índices significativos nesta
variável.
Quem tenta muitos roubos de bola faz muitas faltas e acaba dando
pontos de graça para seus adversários. Este raciocínio deve ter
alguma lógica, já que cinco detentores do título brasileiro
apresentaram índices inferiores à média. Além disto, o IE dos
campeões (0,972) está abaixo de um, sinal claro de uma menor
importância das bolas recuperadas. Estar entre a bola e a cesta e
contestar todos os arremessos do adversário ainda é a melhor
maneira de se vencer.
O
jogo coletivo e um bom domínio dos conceitos de jogo podem
determinar a vitória de uma equipe. Somente o percentual de três
pontos e os tocos apresentaram IE maior que o das assistências.
Como boa parte dos assists vêm dos armadores, é bom tratar de
providenciar um ou dois deles de boa qualidade para sua equipe.
Uma das máximas do basquete é tentar sempre a cesta. Os números do
Brasileiro comprovam este fato. Apenas um campeão nacional
apresentou IE abaixo de um (0,877 - COC em 2003). O COC sempre
correu mais que a bola, daí seus números serem desfavoráveis neste
quesito (eles compensaram em muitos outros).
O
acúmulo de faltas denota uma má postura defensiva ou agressividade
em excesso, além de propiciar muitos lances livres para o
adversário. Não se poderia esperar o contrario que a maioria dos
campeões apresentasse um IE positivo.
|
RED |
REA |
TREB |
BLO |
REC |
ASS |
PER |
VIO |
ERR |
FAL |
Índice IE |
1,038 |
0,939 |
1,003 |
1,099 |
0,972 |
1,096 |
1,090 |
1,088 |
1,070 |
1,056 |
V.Max |
1,133 |
1,031 |
1,061 |
1,533 |
1,114 |
1,288 |
1,279 |
1,273 |
1,165 |
1,174 |
V.Min |
0,941 |
0,868 |
0,920 |
0,739 |
0,734 |
0,900 |
0,843 |
0,870 |
0,877 |
0,941 |
Em suma, a fórmula mágica do sucesso no Campeonato Brasileiro
mistura um bom percentual de três pontos com uma boa seleção de
arremessos; acrescenta o domínio dos rebotes defensivos; adiciona
o jogo coletivo (traduzido pelas assistências); evita o acúmulo de
erros e termina com uma pitada de intimidação defensiva (tocos). A
recuperação de bola e o rebote de ataque não necessitam entrar no
bolo. Sair disparando arremesso a esmo muito menos. É bom não
espalhar a receita...
Qualquer dúvida ou
sugestão:
bbheart@bbheart.com.br
|