Marcelinho Huertas e a realidade do basquete brasileiro
Por: Prof Ms.
José Marinho Marques Dias Neto
EFE
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Marcelo Tieppo Huertas, 25
anos, 1,91m, armador revelado pelo Paulistano, mostrou seu
valor por sua velocidade, habilidade com a bola e por sua
impetuosidade no Brasileiro de 2003, atuando pelo Pinheiros,
tendo sido considerado o calouro do ano com médias de
16.1 pts, 2.8 rebs, 3.5 ass. Em 2004, após passagem pelo
Paulistano, se transferiu para Europa para jogar no Juventut
de Badalona, onde foi reserva por três anos. Em 2007, trocou
de time, indo para o Bilbao, onde sua carreira decolou, sendo
escolhido o melhor armador da temporada da ACB (14,6
pts e 3,9 ass). Fontes afirmam que nosso armador estará
retornando ao Juventut
para próxima
temporada. |
Mas não basta ter
habilidade para ser um bom jogador de basquete. Vai muito além
disto. Trata-se de ter o domínio conceitual do jogo. Isto é, ter
recursos técnicos e saber o momento de aplicá-los, escolhendo os
fundamentos e tomando decisões corretas de acordo com as situações
apresentadas. Além disto, um jogador de basquete nunca está
pronto. Sempre há algo a ser acrescentado no seu arsenal
técnico-tático. Se a tudo isto for acrescentada uma pitada (bem
grande) de obstinação, denodo e sacrifício, teremos o talento
potencializado.
Mas ninguém percorre
esta dura trajetória sem muito treinamento, sofrimento e humildade
para adquirir novos conhecimentos. O aprendizado depende
fundamentalmente da disposição aluno e da qualidade de quem
ensina.
Acrescentar um novo
elemento técnico ou melhorar os conceitos de jogo de um atleta
(por mais talentoso que ele seja) demanda metodologia, recursos
didáticos, tempo e paciência do treinador. Em suma, um
profissional capaz de exercer sua função condignamente precisa
estar em constante processo de aprendizagem, se reciclando a cada
momento, estudando, exercitando sua capacidade de observação e
tirocínio na busca da excelência. Com excelência e capacidade de
trabalho, um técnico tem como dar um auxílio significativo no
processo de formação de um verdadeiro jogador de basquete.
No Brasil,
infelizmente, somos especialistas em explorar talentos e não em
forjá-los. Tirar do jogador o que ele tem de melhor, sem contudo,
acrescentar uma “palhinha” no repertorio técnico-tático de nossos
jogadores. Não sei se por preguiça, falta de motivação, baixo
nível de exigência, incapacidade, amadorismo ou qualquer outra
causa, não importa. A verdade é que poucos jogadores realmente
evoluíram nas nossas mãos nos últimos tempos.
Por que não
conseguimos fazer Arnaldinho, Nezinho, e outros inhos atingirem
também a excelência? Por que o Renato, Diego Pinheiro, Olívia,
Jefferson, Dedé, etc pararam no meio do caminho? Por que o
Manteiguinha não virou um atleta? Por que ninguém conseguiu
melhorar a mecânica de arremesso do Demétrius? E o Murilo, atingiu
seu limite? Por que nossas equipes só pensam em chutar de três?
Nos últimos anos, pouquíssimos casos de promessas se converteram
em jogadores de verdade aqui no Brasil. São raros os exemplos de
atletas que realmente adicionaram algo de novo em seu repertório
técnico. O Helinho, com certeza, é um nome que não pode ser
omitido. Melhorou seu arremesso, sua defesa, seu tino de jogo,
entre outras qualidades. O Alex não pode deixar de ser lembrado. O
Marcelinho Machado melhorou muitos sentidos nos últimos tempos
(será que não foi por sua experiência na Europa?). E quem mais? O
Nenê e o Leandrinho? Me poupem. São jogadores que vivem muito mais
de sua condição atlética do que de algo que aprenderam aqui.
Insisto em citar o
caso do Marcelinho Huertas, pois ele retrata exatamente o processo
de transição de um jovem habilidoso para um verdadeiro jogador de
basquete. Marcelinho adicionou importantes qualidades ao seu jogo,
tais como o arremesso em progressão “ à la Steve Nash”, o drible
entre a dobra no “pick n´roll”, o passe picado para o pivô (após o
“pick n´roll”), o drible agressivo e passe, a seleção de
arremesso, o uso objetivo de sua habilidade com a mão esquerda,
etc. O mais importante, porém, foram as muitas virtudes
adicionadas aos conceitos de jogo. Seu discernimento de escolha da
melhor opção de ataque, sua seleção de fundamentos e sua
capacidade envolver os companheiros no ataque tornaram-no um novo
jogador. Ele força algumas bolas (passando...), é verdade, mas
quem não tem defeitos? O que dói é que não fomos nós que ensinamos
tudo isto a ele. Não fomos nós que tivemos a paciência de treino
após treino corrigir seus erros. Não fomos nós que pensamos em seu
futuro. Ele precisou sair daqui para evoluir.
A verdade é que ser
técnico de basquete no Brasil não é uma profissão nobre. Não é
necessário quase nenhum tipo de qualificação. Basta ter jogado um
pouquinho, ou ser amigo das pessoas certas, ou mesmo ter dinheiro.
Qualquer um pode ser treinador de basquete em nosso país. Não
existe qualquer ação institucional para coibir este absurdo.
Nenhum curso de nivelamento (quem iria ministrá-lo?). Plano de
carreira, é grego (ops, palavra proibida). Tudo muito normal. Tão
normal quanto o baixo nível de nosso basquete na atualidade...
Críticas,
dúvidas e sugestões:
bbheart@bbheart.com.br
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