Entre o Milagre e o Naufrágio
Prof. Ms. José Marinho
As colunas do Guilherme e do
Alfredo (no draftbrasil.net) expressam toda indignação de nós,
amantes do nosso basquete, com este momento estapafúrdio
depressivo que vivemos nestes últimos dias. Mas, mesmo assim,
tentarei (se possível) dar também minha contribuição.
Para atenuar nosso sofrimento (ou
não), darei, num primeiro momento, um panorama sobre nossos
principais adversários na corrida pela vaga olímpica:
Croácia
Nikola Vujcic e Gordan Giricek
(companheiro de Leandrinho no Phoenix) não foram convocados. O
técnico Jasmin Repesa deu a
entender que chamou apenas aqueles tinham desejo de representar
o país. Já o pivô Mario Kasun, as voltas com problemas
cardíacos, deverá se apresentar mais tarde.
Eslovênia
A sétima colocada no Euro 2007 mantém
sua base. Primoz Brezec, Beno Udrih, Bostjan Nachbar e
Sasha Vujacic, todos atuando na NBA, não disputarão o torneio. O
grande desfalque será o pivô Erazem Lorbek (Lottomatica Roma),
que pediu dispensa. Os destaques são o ala-pivô Matjaz Smodis e
o baixinho Domen Lorbek.
Grécia
Outra equipe que
manteve a base da ultima competição européia. Papadopoulos e
Hatzivrettas pediram dispensa e Kakiouzis, o capitão do time na
Euro 2007, simplesmente não foi convocado pelo técnico Yannakis.
O favorito do torneio contará, infelizmente, com Papaloukas,
Spanoulis, Tsartsaris e sua temida defesa.
Canadá
A seleção
canadense deve vir mais forte desta vez. A base é de jogadores
que atuam profissionalmente no exterior (e não universitários,
como em outras oportunidades), sendo dois jogadores da NBA: Joel
Anthony e Sam Dalembert. A convocação de Steve Nash, por sua
vez, nem foi cogitada.
Nova Zelândia
Com Dillon Boucher,
Tony Rampton e Phill Jones encerrando suas carreiras na seleção
e Mark Dickel e Paul Henare não aceitando a convocação, restou
ao técnico
Nenad Vucinic
selecionar nove jogadores novatos para iniciar a preparação dos
Tall Blacks para o Pré-Olímpico. Não deve incomodar.
Alemanha
Embora Dirk
Nowitzki tenha alguns problemas físicos e ainda não tenha se
pronunciado oficialmente, o time alemão deve vir completo para o
Pré-olímpico. O pivô Robert Garrett acertou seu novo contrato e
confirmou sua participação no grupo.
Porto Rico
Não tenho
informações sobre o time de Porto Rico. Mas, provavelmente,
estaremos frente aos mesmos Arroyo,
Ayuso e cia
ltda que nos vencem sempre.
Isto posto, nos resta analisar a
nossa melancólica realidade. Nenê, Anderson Varejão,
Guilherme Giovannoni, Paulão e Valtinho pediram dispensa,
alegando diversos motivos. Leandrinho, por sua vez, depende de
um acordo com sua equipe da NBA para atender à convocação.
Achei, erradamente, que a vinda de
um novo técnico de currículo e credibilidade pudesse reverter a
lista de prioridades de nossos jogadores, mostrando a eles a
real dimensão do que é representar um país numa Olimpíada.
Triste engano! Suas carreiras estão muito à frente dos
interesses da comunidade do basquete.
Penso que conviver com a dor é
quase uma obrigação na vida de um atleta. Todos os dispensados
estiveram em quadra por seus clubes até o fim da temporada,
podendo se sacrificar um pouco mais pelo bem de nosso basquete.
Mas, infelizmente, vivemos num mundo no qual os ideais são
facilmente suplantados pelos interesses financeiros, onde os
agentes e dirigentes determinam as condutas dos atletas. A pouca
credibilidade da CBB dificulta ainda mais a situação, pois nunca
se sabe se os seguros e as premiações dos atletas serão
honrados.
Por outro lado, alguns de nossos
jogadores dissidentes se esquecem que os que contribuíram com
suas formações no início de suas trajetórias dependem hoje
diretamente do sucesso da seleção para que o nosso basquete
interno volte a ser forte, aumentado o capital circulante e a
exposição na mídia, melhorando assim, as condições do mercado de
trabalho. Isto sem contar com os muitos (nem tantos, pois o
basquete perdeu quase todo seu prestígio) que disseram que não
irão mais assistir basquete em repúdio ao comportamento destes
atletas.
Voltando ao nosso momento de
angústia. Moncho Monsalve parece ser um bom treinador. Mas
milagre, possivelmente, não dará para ser feito. Se, nas últimas
competições, com a equipe quase completa colecionamos
insucessos, imagine com o grupo desfigurado. Por mais que haja
uma guinada de 360º graus na postura dos atletas, acredito que
acabe por faltar fôlego, principalmente, quando o banco tiver
que ser acionado. Jonathan Tavernari, (1,98m, Brigham
Young, 13,1 ptos, 5,3 rebs, 37.6%
nos 3 ptos), Duda e Ricardo foram os convocados de emergência.
Jonathan é um ala promissor, que joga com intensidade e mata
bolas de fora, mas não tem experiência para contribuir por
muitos minutos sem cometer os erros naturais de um jovem. Duda
fez um excelente Brasileiro e mereceu, a meu ver, estar no
grupo. Faltam a ele força física e disciplina tática para render
neste nível. Ele poderá ser útil em momentos especiais de alguns
jogos. Mais que isto, é exigir demais. Não entendi a convocação
do Ricardo, um pivô baixo até para os parâmetros aqui do Brasil.
Da seleção “Sul-americana”, o Coloneze e o William seriam as
opções mais lógicas para a posição.
Apesar de estarmos debilitados na
função de armador, com pouco poder de fogo, restritos nas peças
de reposição e com escassez de tempo de preparação para atacar
todos os problemas crônicos de nossa seleção, eu, contrariando a
maioria, digo que fico. Dia 15 de julho estarei torcendo em
busca da canonização do Monsalve. Não abandono a nau “hispano-brasileira”,
mesmo fazendo água....