O Arremesso de três Pontos: Cura ou Doença?
Por: Prof Ms.
José
Marinho
Assisti o primeiro
tempo da partida entre Assis e Paulistano, realizada na última
quinta-feira, válida pela Supercopa, e fiquei perplexo com a
enxurrada de arremessos de três pontos. Não só com a quantidade, é
verdade, mas também pelas situações absurdas nas quais os atletas
tentavam este tipo de arremesso. Só para se ter uma idéia do
contra-senso:
o time de Assis tentou mais arremessos de três do que de dois
pontos durante a partida (33x32). No último jogo de Limeira,
Arnaldinho (nove tentativas de média por jogo) disparou incríveis
17 bolas de três. Carta branca total! Em toda Euroliga, apenas
oito jogadores arriscam mais de cinco arremessos de trás da linha
de 6,25m por jogo. Em comparação com a liga européia, não observei
diferenças significativas na relação entre as bolas de três e os
outros tipos de arremesso, embora no velho continente se vá à
cesta menos vezes por partida. O problema está, então, na
qualidade dos arremessos. Se no Brasil o percentual de acertos não
passa dos 34% no campeonato da CBB e dos oito componentes da
Supercopa, apenas três superam os 35%; na Euroliga, a despeito da
qualidade inegável defensiva, 15 entre 24 equipes convertem mais
de 35% dos arremessos de três pontos.
Alguns podem
atribuir o abuso nas bolas de três e a falta de qualidade de
seleção dos arremessos à geração de Oscar/Marcel. Oscar atuou pela
seleção pela ultima vez há 12 anos atrás. Muitos dos que se
excedem hoje em dia, não os viu jogar e alguns de seus técnicos
atuais foram os críticos ferrenhos deste estilo de jogo no
passado. Acho que o Brasil dos anos 80 abriu os olhos do mundo do
basquete para importância do arremesso de três pontos (uma
novidade na época, incluso nas regras em 1985). A quebra do
paradigma através do exagero propiciou aos estudiosos uma séria
reflexão e a revisão dos conceitos ofensivos do jogo, relevando um
papel mais efetivo deste tipo de arremesso na construção do padrão
tático das equipes.
Considero o
arremesso de três um remédio poderoso. Nos maus momentos, nos
jogos com placar apertado, quando se está perdendo por “uns dez
pontos”, contra defesas por zona ou homem-a-homem muito flutuadas,
entre outras situações, acertar uma (ou mais) bola (s) de três tem
o poder de mudar o rumo da partida. Afinal de contas, ele vale 50%
mais que os arremessos de quadra.
Mas como a maioria
dos medicamentos fortes, apresenta diversas contra-indicações. O
rebote longo (e o conseqüente contra-ataque em resposta), seu
maior grau de dificuldade, a influência negativa sobre o moral
defensivo (no caso de erros sucessivos), entre outros efeitos
colaterais. Além disto, ele tem um poder viciante, que acaba por
fazer os jogadores exagerarem em sua dose através de arremessos
desequilibrados e fora dos padrões táticos de suas equipes.
Por fim, não estou
pregando uma volta ao passado. O bom time de basquete tem como uma
de suas principais características a versatilidade, dificultando
as opções de jogo de seus adversários. A alternância de condutas
ofensivas gera dúvida e hesitação nas defesas, propiciando mais
situações de arremessos de alta percentagem. Acho recomendável o
uso dos arremessos de três pontos com moderação, através de opções
táticas bem definidas, voltadas para os jogadores que apresentem
precisão na sua execução; após o recuo da defesa ante uma jogada
de um pivô; ou mesmo em situações de necessidade momentânea na
partida. Atribuo o comentário -“Se minha bola de três cair, eu
ganho o jogo” – à falta conceitos de jogo e de consciência tática,
revelando o nível de despreparo e falta de capacitação imperante
no basquete brasileiro da atualidade.
Críticas,
dúvidas e sugestões:
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